Por Dayane Nayara¹ e Manuela Vieira Costa²
Uma tendência surgiu ladeada de polêmicas nos veículos de notícias do universo da moda: A balaclava. Tal acessório, usado para cobrir o rosto, deixa apenas os olhos visíveis, foi usado pelos combatentes do exército britânico durante a Guerra da Crimeia, no século XIX. O adorno tem esse nome em referência ao distrito de Balaklava, na cidade de Sevastopol, que é uma região de frio intenso na Crimeia³.

Por trás do enfeite existe a perspectiva histórica de movimentos sociais e manifestações políticas em que os participantes vestem o acessório e procuram manter-se em um estado de anonimato para que não sejam reconhecidos. Ademais, o gorro foi usado por manifestantes separatistas pró-Russia no Leste Europeu, no século XIX (4), com escopo de gerar ameaça.
Dessa forma, o adorno carrega consigo a ambiguidade entre o bem e o mal, estereótipo criado pela polemização das mídias, a depender do contexto em que é usado, a exemplo dos policiais que utilizam para preservar suas identidades, ao mesmo tempo que também é utilizada por terroristas criminosos causadores de catástrofes no Estado Islâmico, além de funcionar como equipamento de proteção individual.
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A dicotomia persiste quando se torna tendência para pessoas brancas utilizarem o adorno, a ponto de personalidades famosas como Kim Kardashian e Justin Bieber popularizarem o acessório nas redes sociais e influenciarem seus seguidores a aderirem, no entanto, há a revolta por pessoas negras diante da prática de racismo latente, vez que é evidente o privilégio racial. Pois, quando pessoas negras utilizam a balaclava, se tornam alvo de racismo ao serem abordadas e revistadas na rua injustamente.
Nesse sentido, percebe-se que marcas relevantes, por exemplo, Givenchy, Miu Miu e Moschino estruturam o gorro como objeto de desejo da moda, ou seja, nota-se a presença da diferenciação social de tais marcas envoltas do objeto. Logo, exsurge-se o debate: A atitude mais responsável pelas grandes marcas e pelos seus consumidores, principalmente influenciadores famosos, deve ser a de avaliar o contexto em que uma balaclava deve ser usada, descartando a possibilidade de que este acessório seja usado como um item fashion.

É muito importante que haja cada vez mais debates e discussões nas mídias sobre a representatividade das pessoas negras, especialmente no mundo da moda, que continua enclausurado em padrões estéticos ditatoriais, e que está totalmente relacionado à questões culturais, sociais, políticas e econômicas.
A contrariedade existe quando a moda é a representação da identidade de um indivíduo e uma pessoa negra não se sente representada dentro desse universo. Além da mídia, questões raciais devem ser estudadas sob a ótica das grandes marcas, que geralmente são as responsáveis por perpetuar as tendências. Afinal, existem muitos elementos na moda que possuem um contexto histórico e social carregado de simbologias que devem ser compreendidas por quem as torna uma tendência.

Há tempos a sociedade sinaliza ao universo da moda a necessidade de combater o racismo sistêmico por tal eixo setorial econômico, para além de propagandas midiáticas, mas com criações de políticas inclusivas, embora seja um paradoxo, pois a essência da moda é de pluralidade, de democratização social e de quebra de paradigmas. Na verdade, os responsáveis pela materialização da moda que a deturpam.
A moda enquanto arte e poesia converge com o fim do racismo e do preconceito, mas enquanto objeto de poder pela humanidade se distancia de sua verdadeira essência e, consequentemente, aproxima-se dos danos sociais e separatistas da humanidade. Nessa perspectiva, indaga-se o uso da Balaclava: Seu uso é poetico ou segregador? O cerne da questão está no objetivo.
Sobre as autoras:
¹Dayane Nayara – Mestra em Direito Econômico e Desenvolvimento pela UCAM-RJ. Especialista em Direito Fiscal pela PUC-RJ. Especialista em Direito da Moda pela FASM-SP. Extensão em Fashion Law pela UERJ. Professora da Graduação em Direito do Centro Universitário Uninassau-Doroteias. Pesquisadora na Câmara Setorial da Moda-CE. Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Direito, Moda e Sustentabilidade pela UNIFOR/CNPq.
²Manuela Vieira Costa – Advogada. Pós-graduanda em Fashion Law na FASM-SP. Pós-graduanda em Direito Digital e das Startups na UNIFOR.
Referências:
³DIETZ, Thomas Walter. Sujeitos anônimos: ensaio sobre a balaclava como objeto articulador de um discurso visual contemporâneo. IV Seminário de pesquisas em artes, cultura e linguagens. Instituto de Artes e Design. Universidade Federal de Juiz de Fora – MG, 2017.
(4) BUSHKOVITCH, Paul. Historia Concisa da Rússia. Cambridge; Estados Unidos, 2019.
Foto capa: Reprodução